Nos Estados Unidos, a guerra cibernética é considerada, hoje, a principal ameaça à segurança nacional, maior até mesmo que a rival Rússia, a ameaçadora China ou os extremistas islâmicos, revelou no Senado o professor Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), citando a declaração ouvida de um pesquisador norte-americano na área de defesa. A guerra cibernética é levada tão a sério, disse, que o Departamento de Defesa criou sua própria divisão de combate cibernético.
Segundo ele, a divisão voltada para a guerra cibernética emprega jovens ligados a essa nova realidade para buscarem falhas e formas de minar os sistemas de defesa das potências adversárias. Os americanos reconhecem, explica o professor, que as ações militares estão cada vez mais dependentes do aparato tecnológico, e os sistemas que alimentam passaram a ser um calcanhar de aquiles até mesmo para a maior potência bélica do planeta.
“Quebrada essa estrutura de comando e controle baseada em tecnologia, para de funcionar a guerra moderna. Você está num tanque, numa tela, clicando o que outra unidade está vendo, o que um avião está vendo. Se você quebra isso, eles param e deixam de funcionar, como essa máquina de guerra que eles têm. Então, tecnologia passa a ser, hoje em dia, algo fundamental”, raciocina Rudzit sobre a guerra cibernética.
Sem preparação
Professor da Divisão de Assuntos Científicos e Tecnológicos da Escola Superior de Guerra (ESG), Simon Rosental afirmou que as potências mundiais não querem permitir que o Brasil e outros países emergentes tenham acesso ao que se chama de “tecnologias sensíveis”. O alerta teria sido dado ainda em 1996, durante congresso internacional sobre tecnologias sensíveis realizado no Rio de Janeiro e patrocinado pela ONU e pela Subsecretaria de Inteligência da Presidência da República.
“Os países desenvolvidos colocaram claramente: ‘Brasil e demais países que possuem riquezas naturais em abundância não vão avançar em tecnologias sensíveis’. Vocês ficam com bens de baixo conteúdo tecnológico e valor agregado. Tecnologias sensíveis ficam conosco, porque, como podem ser aplicadas para o bem e para o mal, vocês poderão fazer mau uso”, relatou o professor.
“Essa conferência não foi tranquila. Tanto o Brasil como os demais países em desenvolvimento não se conformaram com uma situação dessas. Se já temos um hiato tecnológico grande em relação aos países desenvolvidos, e a tecnologia está avançando cada vez mais, a velocidades maiores, se aceitarmos uma barbaridade dessas, cada vez vamos andando para trás e cada vez vamos ficando mais distantes da tecnologia”, afirmou Rosental.
Prejuízos e temor
Em comunicado à imprensa, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) disse, sobre a guerra cibernética, que “os ataques mais preocupantes são aqueles que visam acesso indevido a informações sigilosas da administração pública federal” e afirmou que a preparação do órgão contra possíveis ataques tem sido adequada.
De acordo com o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança (Cert), que reúne sobre a guerra cibernética, notificações de ataques eletrônicos em todo o país, o Brasil registrou quase 400 mil ataques a computadores em 2011. O total de notificações recebidas em 2011 foi quase 300% maior que em 2010.
Cerca de metade das fraudes registradas, segundo o Cert, foram páginas falsas, geralmente de bancos, criadas para roubar dinheiro dos usuários. Segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), as fraudes cibernéticas custaram R$ 685 milhões aos bancos só no primeiro semestre de 2011, 36% a mais do que no mesmo período em 2010.